segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Urso de pelúcia

Cansada de mentiras contadas apenas pra protegê-la, ela mesma sabia que não aceitaria essa bolha. E foi ali, ao lado do quarto dos pais, que Rebeca começou a se descobrir.     
          
            Criada em família religiosa, as missas de domingo nunca a entretiam tanto quanto as madrugadas de sábado nas quais, atenta, escutava as paredes sussurrantes dos vizinhos. O que ela aprendera sobre sexo até os 13 anos estava nos filmes e nas revistas que amiga Joana guardava no inseparável urso de pelúcia que levava sempre para casa de Rebeca, quando dormia lá.    
  
Aprendia naturalmente as coisas que o seu corpo já denotava, não podia mais esconder o par de seios volumosos que estufava a blusa da escola. Aos olhos dos pais, qualquer dobra no short da menina já era obsceno. As cenas da novela das oito? Fim do mundo.

As visitas de Joana se tornaram mais constantes e o desejo latente de vivenciar o que só era sabido na teoria partia também da amiga. Certo dia, resolveram se encontrar não mais na casa de Rebeca, ali já não cabia os anseios que a luxúria incitava.         

   Estavam sozinhas na casa de Joana, trancaram a porta do quarto para certificar que ninguém as atrapalharia. Elas se aproximaram e o primeiro abraço a sós provocara calor suficiente pra perceberem que não era necessário desfrutar dos prazeres da carne de maneira convencional.

Suas bocas tateavam seus corpos e as mãos se beijavam. A curiosidade que as tinha levado até ali tornava cada novo toque “pecaminoso” um prazer imensurável.

Horas depois, a campainha tocou, os familiares de Joana voltaram. Ela e Rebeca ainda se encontraram algumas vezes, mas a fantasia da primeira vez não voltou a se repetir       
                        
            Quando chegou a hora de terem namorados, tiveram. Quando chegou a hora de casar, casaram. Joana teve filhos, Rebeca também, continuaram amigas e, por vezes, se lembraram daquele dia na casa de Joana, no qual Rebeca insistia em ilustrar com a frase: “a melhor maneira de libertar-se dos seus desejos é se entregando a eles”.



Por Müller Leandro


domingo, 4 de outubro de 2009

On - Line


Fernando Albuquerque, homem de 45 anos, empresário de sucesso no ramo das confecções, residente na cidade de São Paulo, pai de duas filhas, passava por uma situação um pouco diferente de sua rotina. Acostumado com viagens a negócios e conferências empresariais, ele agora viajava na intenção de encontrar-se com uma mulher. Divorciado há três anos, e com uma vida totalmente voltada para os negócios, o empresário não deixava tempo para sua vida sentimental. Após sua separação com Paula Albuquerque por motivo de infidelidade, suas esperanças e sonhos aviam-se esvaído, o medo da solidão fez com que o seu trabalho tomasse conta do seu tempo.

Certo dia quando acessava a internet em seu escritório, percebeu que alguém tinha usado o computador deixando algumas pastas e um programa de relacionamento em aberto, movido pela curiosidade resolveu navegar pelo site, passaram horas e os compromissos foram deixados para trás, ligações não eram mais atendidas, Fernando encontrava-se totalmente incomunicável para negócios, naquele momento de forma inexplicável seu mundo resumia-se em uma simples conversa com uma bela garota soteropolitana. Alice tinha 28 anos, era solteira e trabalhava como administradora de uma empresa a serviço da Caixa Econômica Federal. Suas vidas eram totalmente diferentes. Contudo, cinco horas de conversa, foram mais que suficientes para que surgisse um sentimento.

As conversas pela internet passaram a fazer parte da vida do empresário, seu tempo agora estava dividido entre negócios e Alice, a admiração e a vontade de conhecer essa baianinha só aumentavam. Alice que já não agüentava mais de ansiedade resolveu convidar Fernando para conhecê-la pessoalmente, ele por sua vez ficou meio desconfiado, nunca tinha vivido algo tão intenso e inovador ao mesmo tempo. No entanto, Cheio de coragem e por sua conta em risco, aceita o convite.

Já era noite quando Fernando desembarcou no aeroporto da capital baiana, trajando um belo smoking e sua mala, enfim conseguiu chegar a tão sonhada Salvador. A sua espera estava Alice, bela como uma flor. No momento em que se enxergam, Alice corre em direção a Fernando, que por sua vez, livra-se das malas e vai ao encontro de sua amada.

Por Anderson Sampaio

Pátria que me Pariu



21 de abril de 1990, por volta das 14:00 ,nasce Fabio dos Santos. Para todos da sua comunidade seria apenas mais um dos cinco filhos de Joana, solteira e desempregada há seis meses. Contudo, para o hospital e profissionais da saúde nascia ali o fruto de uma pátria desigual. Com algumas partes do corpo totalmente deformadas, o bebê vive por apenas alguns minutos antes de virar estatística de aborto. A gravidez como a de todos os filhos foi indesejada, ainda não se sabe quem são os respectivos pais. Ao saber que estava esperando o seu quinto filho, Joana desesperou-se, o medo e a responsabilidade de criar mais um filho bateu de frente com a realidade vivida por ela, naquele momento o pensamente que a dominava era o aborto. Pensou, pensou mais uma vez e resolveu procurar uma amiga que entende do assunto, ao termino da conversa Joana já sabia claramente quais efeitos que os remédios abortivos causavam não só para ela como para a criança.

Passado quinze dias, Joana consegue o dinheiro para a compra do remédio “ Citotec” , sua aplicação foi de forma inadequada sem qualquer acompanhamento de algum profissional da saúde. Os meses corriam e o efeito esperado pelo remédio não acontece. Chega-se ao nono mês, Joana ciente do que poderia acontecer durante o parto, já não sabe mais o sentido da sua vida. Já é noite dia 20 de abril quando surgem às primeiras contrações, Joana rapidamente pede ajuda, sendo levada para o hospital da cidade, após uma espera de aproximadamente quinze horas, enfim ela se dirige a sala de cirurgia. Seu parto ocorreu de forma perfeita. Entretanto, no momento em que a criança é retirada surge o silêncio, ao pegar o bebê no colo, Joana nada fala, apenas chora.



Por Anderson Sampaio

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

História de Jogador




Era uma quinta-feira chuvosa, a lua se quer mostrava o seu brilho, os ponteiros marcavam aproximadamente 19:30; O grande dia havia chegado. Após dois meses de um árduo treinamento recheado de contusões, desavenças, reclamações, animação, resenhas e muito futebol, enfim, a equipe de futsal da Uesb estava prestes a embarcar rumo aos jogos universitários da Bahia, realizado na capital baiana.
A ansiedade tomava conta do ambiente, o local de embarque seria um posto de gasolina e aos poucos os atletas iam chegando, a equipe tinha a certeza que estava preparada para enfrentar qualquer desafio rumo ao titulo. O primeiro obstáculo a ser vencido apresentou-se antes do inicio dos jogos, o ônibus que foi disponibilizado pela Uesb não tinha a mínima estrutura, conforto era uma coisa que não entraria na viagem. Entretanto, a animação do grupo e a vontade de jogar futebol foi suficiente para que a viagem se transformasse num verdadeiro passeio turístico. A chegada à capital foi tranqüila, porém o alojamento que serviria de abrigo para o time estava lotado e foi-se necessário alugar uma casa.
O primeiro jogo estava preste a acontecer, o adversário foi a Faculdade Social da Bahia, atual vice-campeã da competição. Na preleção a equipe mostrava-se bastante confiante, após palavras animadoras o capitão tomou a palavra e com um discurso otimista conseguiu aumentar a confiança do time. O time entrou na quadra de mãos dadas e os titulares já começavam a se movimentar;  Começa o jogo e equipe adversária vem com tudo no intuito de liquidar a partida nos primeiros cinco minutos, todavia,  a Uesb mostrava-se equilibrada, uma vez que, possuía maior posse de bola e finalizava mais; O time da casa abre o placar, o empate vem logo em seguida; Começa o segundo tempo, a equipe da Uesb vai para cima e consegue virar o jogo, surge novamente o empate e o jogo torna-se dramático. Após duas expulsões a equipe da Uesb sofre o gol que liquida a partida. 


Por Anderson Sampaio

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Inacabado

Inacabado.


Fazia tempo, mas de novo eu te encontrei, estranho e de repente como sempre
Desprevenido, me deixei levar pela sensação que de modo tão incomum, como naquela época, fez aumentar gradativamente a minha ansiedade, pensamentos desconexos de palavras e dedos permeando involuntários o teclado, que sofreu coitado, com sucessivas agressões que precisavam ser ligeiras, já que você já havia anunciado o pouco tempo de que dispunha. Não hesitei como de praxe minha covardia me impunha.Toquei no velho assunto, incitei lembranças sobre a velha história... E os momentos que sucederam eram muito semelhantes aos quais de tanto lembrar eu já havia esquecido, esquecido não! Guardado. Guardados como a minha esperança naquelas noites de ouvir o telefone tocar, e por isso já se preparar pra disparar e não deixar ninguém além de mim, atender pra saber se era você. Longos meses foram aqueles que sucederam aquela noite a qual desajeitado e sem muito papo sentei e deixei a tal covardia de lado pra perguntar sobre o que você gostava, e mentir um pouco também, eu permitia-me apenas saber que aquilo seria uma aventura, uma história de verão, mas como sempre objetivar um capricho me levou a superestimar o que ainda nem era sentimento, e que de modo gigante me tampou os horizontes e me fez fazer planos mesmo sem esperar resposta de quem inspirava estes sonhos. Aos poucos os telefonemas escasseavam e a realidade desanimadora me realçava a lembrança de que não éramos da mesma cidade e adolescentes o bastante pra depender demais de casa. Eu até preferiria, mas o difícil era não fazer valor e não me importar com o que pensava sobre mim. Continuei me declarando e você confirmando que iria acontecer, bastava eu aparecer, eu esperava a oportunidade, o pretexto de ir lá, era a covardia de novo, eu queria andar com os pés dos outros... Não suportava a idéia de ir, não dar certo e me arrepender, esse medo de tentar sempre atrapalhando experenciar... Eu sempre me lembro, foi depois do são João, julho meu padrasto iria vender um carro por aí, eu fui de carona e fiquei de sentinela na praça, uma hora e meia depois vi tua irmã passando, sim era ela, eu a segui até criar coragem de chamar seu nome e perguntar de você. Ela me levou na tua escola e ao te ver, o redor perdeu valor diante do que era tua pele clara e cabelo amarrado naquele dia... Eu falei bastante, nervoso eu não reagia a você, aliás, reagia, eu só não agia, foram três ou quatro beijos e a impressão que deixei não devia ser das melhores, eu fui você não ligou mais e eu também não mais voltei...
E hoje após mais um dia de aula comum, a internet resolve conectar, e quem aparece falando comigo pelo MSN? Você, que se permitiu admitir, ainda não me esquecera e se pudesse não perderia a chance de ficarmos juntos de novo... A vida se renovou... A distancia aumentou, mas não foi capaz de limitar a recordação do teu semblante, que se apagava, mas se eu disser que não penso mais em você, mentiria... É estranho, mas é preciso saber, sentimentos não são retos... Fazia tempo, e hoje você de novo me encontrou, alheia e surpreendente como sempre... E agora eu fico aqui a pensar se foi só um lampejo da memória, ou se era hora de recomeçar. O que está inacabado perturba, e talvez esse seja o segredo de não esgotar o amor... ficar sempre assim inacabado.